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Festas e reflexões

Mesmo com a melhoria na estrutura física das universidades, nossa vida acadêmica está a caminho da cova

Agência da Notícia com Redação

11/12/2014 - 17:11

 Nesta semana, a UFMT encontra-se em festa! 43 anos! Das comemorações, destaco as apresentações do Coral e da Orquestra Sinfônica.

Quando ingressei na UFMT, ela tinha 16 anos; eu 26. Portanto, há 27 anos tenho me dedicado para ajudar na consolidação dessa importante instituição de ensino superior.

Todavia, minha contribuição nem sempre tem ocorrido nos moldes corriqueiros, pois, além de ensinar, pesquisar e – mais no início da carreira – fazer o que era possível em termos de “extensão”, ou algo próximo disso, tenho podido participar das atividades do ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).

Essa participação político-sindical – que tem sido um dos meus aprendizados mais relevantes sobre a própria vida acadêmica – tem me ajudado saber quando devo aplaudir e quando preciso cruzar os braços para expor meu senso crítico, diariamente buscado.

"Nunca tanta tolice foi publicada como científico. Há quem vá até ao exterior mostrar esses trabalhinhos de m..., muitos no campo do exótico. Gringo pós-moderno também curte tolices" Por isso, tenho sido um dos observadores da vida universitária em nosso país, nela incluindo o cotidiano da instituição onde trabalho. Em menos de três décadas, é possível exclamar: como mudou a universidade brasileira! Como mudou a UFMT! Como mudamos (quase) todos nós que fazemos a academia no Brasil!

Contudo, mais precisamente nesses últimos quinze anos, essa mudança não tem nos qualificado como deveria. Tem, sim, nos quantificado, nos “numerificados” como não podia.

Resultado: mesmo com visível melhoria na estrutura física das universidades, nossa vida acadêmica – praticamente sem autonomia – está a caminho da cova. Na frente do cortejo, vão as licenciaturas, justamente onde não podia haver descida de tom, até porque o tom desses espaços nunca foi alto.

Para falar dessa queda de nível das universidades, alio-me a Luiz Felipe Pondé, professor da PUC/SP. Nossa crítica abrange o sistema em geral. Dele, nosso destaque fica por conta da vida (ou na morte) da pós-graduação.

De Pondé, extraio fragmentos lidos no artigo “A ratazana com PhD” (Philosophiae Doctor), publicado na Folha de São Paulo em 17/11/14.

1. “...no universo do mestrado e doutorado, a universidade existe para fazer relatórios que supostamente medem a qualidade da pós-graduação”;
2. “A originalidade é perseguida a pauladas...”;

3. “O aluno é a variável menor porque ele não ‘conta’ ponto nenhum para a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)...”;

4. “E o aluno, como todo miserável numa cadeia alimentar em que é a parte mais fraca, sonha virar predador: submete-se ao matadouro porque quer passar em algum concurso. Mas, se quiser, trate de arranjar alguém que manipule uma banca a seu favor”;

5. “A produção na universidade é industrial, do tipo produção de salsichas. Puro capitalismo chinês”. E capitalismo chinês é assim: TVs, carros baratos e gente estúpida, correndo da ratazana devoradora de almas”.

Quanta pertinência e força nessas palavras!

Mais do que isso: Pondé denuncia o que virou a universidade, a começar pelo topo, agora, sem a dignidade da toga. A pós-graduação tornou-se império dos conchavos. É farsa atrás de farsa. Com raras exceções, nunca se produziu tantos mestres e doutores tão débeis.

Nunca tanta tolice foi publicada como científico. Há quem vá até ao exterior mostrar esses trabalhinhos de m..., muitos no campo do exótico. Gringo pós-moderno também curte tolices. Porém, nada desse lixo acadêmico servirá para o crescimento intelectual de nosso país.

Nunca antes... a pós foi espaço de tanta canalhice e/ou covardia.

Esse quadro precisa ser revertido; e logo, antes que seja tarde.

ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Ciência da Comunicação/USP e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)..
 
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