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Terça-feira, 16 de abril de 2024
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Ciclistas se arriscam e enfrentam trânsito caótico de Cuiabá

A lei do trânsito é taxativa: os menores devem ser respeitados. Aqui isso não acontece

 O capítulo III do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é claro: os veículos de maior porte são responsáveis pelos menores, os motorizados pelos não motorizados, todos, pelos pedestres.

Em Cuiabá e Várzea Grande, além de o código não ser cumprido, na prática, ele funciona exatamente ao contrário. Ao menos, é o que relatam ciclistas ouvidos pela reportagem do MidiaNews.

Um deles é Izaqueu Fidelis, segurança particular, que usa a bicicleta desde 2011, todos os dias, das 16h às 19h, para a prática esportiva. Apesar da paixão, as histórias de trânsito não são as melhores.

“Sem dúvida nenhuma as duas maiores dificuldades são a falta de ciclovia e a falta de respeito dos motoristas, que vivem nos fechando. Uma vez, por exemplo, estava pedalando com um amigo, um motorista estava falando ao celular, não nos viu, e meu amigo teve que se jogar na calçada, machucando o joelho. Se ele não fizesse o movimento, provavelmente o carro teria passado por cima”.

Sem regra, com exceção
Fechamento de veículos e falta de atenção dos motoristas também marcam as histórias de Sérgio Urel, conhecido como “Cachorrão”, que pedala pelo menos 50 quilômetros por dia, seis vezes na semana.

São seis anos de experiência, atualizados sempre por meio de fotos e vídeos (confira um abaixo), além de relatos nas redes sociais como Facebook.

“Nosso principal problema é o trânsito e a falta de ciclovia. Sem elas, nós somos obrigados a dividir espaço com veículos de todos os portes. Já aconteceu comigo de tomar fechada e cair no meio fio, não machuquei por sorte”, disse.

Apesar de não acreditar em uma solução, nem a médio e nem a longo prazo, para Urel, em comparação aos últimos cinco anos, poucas mudanças ocorreram. Elas, no entanto, partem apenas entre a população.

“O esporte se popularizou e hoje, um motorista pode até não pedalar, mas conhece um amigo ou parente que utiliza a bicicleta. A culpa nem sempre são dos motoristas, mas do formato das ruas que impossibilita que eles nos veja. Claro, nada disso é uma regra e exceções sempre existem. Agora, pelo poder público, não sinto vontade de mudanças e, quem sabe, nos próximos anos vamos ver uns 15 km ou 20 km de ciclovia”, afirmou.

Modal

Para a agente de desenvolvimento econômico e social, Lorraine Tavares, que utiliza a bicicleta há dois anos como meio de transporte e também como prática esportiva, o principal problema envolvendo ciclistas na Grande Cuiabá é a falta de compreensão que a bicicleta também é um modal e, como tal, deve se respeitada.

“Eu poderia dizer que o principal problema por aqui é a falta de estruturas cicloviárias, mas penso que não é bem por aí. O transito é composto de veículos automotores, veículos não motorizados e pedestres, mas parece ser trabalhado só para os automóveis. Por falta de conhecimento, tanto ciclistas quanto motoristas não cumprem as leis de trânsitos”, pontuou.

“Por um lado temos motoristas que não diminuem a velocidade e não mantêm distância ao ultrapassar ciclistas, buzinam e mandam o ciclista para a calçada. Por outro, temos muitos ciclistas que ocupam as calçadas, pedalam na contramão e não utilizam iluminação. Penso, então, que o maior problema mesmo, é falta de reconhecimento da bicicleta como modal de transporte regulamentado pelo Código de Trânsito Brasileiro”, completou.

Cidade não planejada

O uso das ruas pelos ciclistas em Cuiabá não é uma escolha e sim falta de opção.

Conforme dados do município, a Capital possui cerca de 20 quilômetros de ciclovias ou ciclofaixas, que estão repartidos entre a Avenida Archimedes Pereira Lima (Estrada do Moinho), com 2 km; a Avenida das Torres, com 10,4 km e a Avenida Tatsumi Koga, no Pedra 90, com cerca de 7,5 km.

Ao MidiaNews, o secretário municipal de Esporte, Lazer e Cidadania, Carlos Klaus, garantiu que há projetos da Prefeitura em estudo para definir a viabilidade de novas ciclovias, mas não há nada definido.

“Estamos em estudo sim para anunciar tão breve seja possível. Os únicos projetos em relação às ciclovias atualmente em execução são da Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo). Infelizmente, no caso de Cuiabá, a cidade não está projetada e agora terá que ser readequada por um custo bem mais elevado”, disse.

No caso da Secopa, das 56 obras de mobilidade urbana existentes, apenas duas prevêem ciclovias: Via Parque do Barbado e a própria Avenida Archimedes Pereira Lima, que passaria por uma ampliação do trecho para os ciclistas.

As datas de entrega das obras, segundo a pasta, estavam previstas para abril. Até o momento, no entanto, não há data de inauguração marcada.

Enquanto isso, iniciativas populares começam a dar “corpo” para projetos que o poder público não desenvolve. Uma delas é o abaixo-assinado organizado pelo Coletivo Cuiabá para uma lei de iniciativa popular, a “Lei da Bicicleta”.

A ideia, segundo um dos idealizadores, Felipe Tanahashi Alves, é instituir a bicicleta como modal de transporte regular de Cuiabá e Várzea Grande, fazendo ainda com que 5% das vias sejam destinadas à construção de ciclofaixas e ciclovias.

“Pra que nosso projeto vá pra frente precisamos que 2% dos eleitores do Estado, distribuídos em pelo menos 10% dos municípios, possam assinar o pedido. Ao agirmos juntos teremos mais força e maior facilidade em sermos ouvidos. O apoio de todos é importante e fundamental”, afirmou.
 
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