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Terça-feira, 16 de abril de 2024
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PM que salvou juiz em Vila Rica dispensa rótulo de herói: ''Fiz o meu papel''

Soldado está na PM há 4 anos e disse que nunca havia entrado em confronto antes do episódio

PM que salvou juiz em Vila Rica dispensa rótulo de herói: ''Fiz o meu papel''

O soldado Hellison da Silva Motta, que defendeu juiz em Vila Rica

Foto: Agência da Notícia/Reprodução

Com 25 anos, e há apenas quatro anos fazendo parte da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, o soldado Hellison da Silva Mota, que faz a segurança do Fórum de Vila Rica (a 1.279 km de Cuiabá), não se vê como um herói por possivelmente ter salvado a vida do juiz Carlos Eduardo de Moraes, alvo de um atentado no dia 1º deste mês.
 
Ele contou ao MidiaNews como conseguiu atirar no homem que tentava matar o juiz e afirma: "Eu só queria ajudar o magistrado. Fiz apenas o meu papel de policial".
 
O atentato ocorreu dentro da sala de audiência do magistrado. Domingos Barros de Sá morreu após entrar em confronto com o soldado PM Mota.
 
Segundo testemunhas, Domingos cobrava celeridade e pressionava o juiz a marcar o julgamento no processo ao qual respondia pelo homicídio de um parente, ocorrido em 1999.
 
De acordo com Mota, que é natural do Estado do Pará, o dia começou como qualquer outro e ele estava em seu posto, próximo à recepção, quando foi abordado por uma pessoa que chegou correndo, afirmando que havia um homem armado na sala do juiz.
 
Eu entrei na sala e eles continuaram em luta corporal. Quando vi que eles ficaram mais ou menos de lado para mim, eu fiz os disparos no suspeito e consegui acertá-lo sem atingir o magistrado
 
“Eu corri e, quando cheguei lá, a policial civil já estava verbalizando com o rapaz [Domingos] para que não fizesse aquilo. Eu me posicionei na porta e, quando olhei, vi o magistrado, que estava em luta corporal com o rapaz. Ele [Domingos] estava com a arma na mão, querendo colocar na face do juiz”, contou.
 
O soldado que não costuma trabalhar com colete à prova de balas, disse que não pensou duas vezes e entrou na sala para tentar impedir que o juiz Carlos Eduardo fosse baleado.
 
“Eu entrei na sala e eles continuaram em luta corporal. Quando vi que eles ficaram mais ou menos de lado para mim, eu fiz os disparos no suspeito e consegui acertá-lo sem atingir o magistrado”, disse.
 
Ao perceber que estava sendo alvo do policial, Domingos teria desviado a atenção do juiz, que já estava baleado, e passou a atirar em direção ao soldado. Na sequência, Domingos teria corrido para se esconder atrás de uma mesa.
 
Os dois entraram em confronto até que a arma do policial travou e ele precisou recuar.
 
“Eu continuei atirando na mesa, até que a minha arma deu pane. Foi a hora que eu fui para trás rastejando, em direção à porta, para sair dali. Na hora que eu saí, a minha perna bateu na porta e ela foi fechando e eu fiquei preocupado com o magistrado, que ainda estava na sala baleado. E eu não conseguia trocar a munição”, explicou.
 
Ele, então, pediu a arma da policial civil e, assim que abriu a porta para entrar novamente na sala, o juiz saiu da sala correndo e a troca de tiros iniciou-se novamente.
 
“Quando eu abri a porta, vi que o rapaz já estava novamente mirando no magistrado e ia atirar, então, efetuei mais disparos, só que a arma dela [policial civil] também deu pane e eu não tinha certeza se havia acertado ele ou não. Então, pedi que ele recuasse que eu ia recuar também, para eu poder arrumar a pane da arma da policial civil. Quando eu consegui, a viatura de apoio chegou”, revelou.
 
Conforme Mota, quando os policiais invadiram a sala, Domingos já estava caído na sala de audiência, sem vida.
 
Já o juiz Carlos Eduardo ficou ferido no ombro. Ele foi socorrido e, após passar por atendimento médico, foi liberado. Ele deve ficar com a bala alojada, por não oferecer risco à sua saúde.
 
Os dois já retomaram às suas atividades no Fórum de Vila Rica na semana passada.
 
“Minha intenção era ajudar”
 
O juiz Carlos Eduardo de Moraes, que foi baleado no ombro
À reportagem, o soldado revelou que sentiu medo durante o confronto com o atirador e, mesmo sem colete, tinha como pensamento único ajudar o juiz.
 
“Foi por Deus mesmo. Eu só queria ajudar o magistrado. Tive medo, até porque nunca passei por isso antes. Foi a primeira vez”, contou.
 
Questionado se, em algum momento, se arrependeu de ter entrado na sala, ele foi enfático em dizer: “Eu sei que o que eu fiz não foi errado, fiz apenas o meu papel de policial. Espero que, a cada dia, Deus possa estar me guardando”.
 
Reconhecimento
 
O presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) foi pessoalmente até Vila Rica após o episódio e agradeceu Hellison pela ação em defesa do juiz.
 
A fala elogiosa ocorreu durante reunião com servidores do Forum, quando o juiz, acompanhado do presidente do TJ, retornou ao local de trabalho onde sofreu o atentado a bala. Além de referendar a ação do policial, Ramos disse que encaminhará reconhecimento formal ao governador Pedro Taques (PSDB).
 
Para o comandante regional da PMMT, Walter Silveira dos Santos, além do destemor a atitude do soldado mostrou o perfil de um policial qualificado, pronto para agir e interromper um ato de violência usando a força na proporção necessária.
 
Ele lembrou que o uso da força, nesse caso, disparos de arma de fogo, ocorreu depois de exauridos outros meios na tentativa de cessar a agressão, como a verbalização para que o agressor entregasse a arma.
 
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