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Quinta-feira, 28 de março de 2024
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Classe política falha e não soluciona problema no Araguaia

A representação política mato-grossense não cumpre bem sua função.

Classe política falha e não soluciona problema no Araguaia

Foto: reprodução

Quando o Estado não é liderado seu povo é penalizado. Essa máxima se aplica bem a Mato Grosso, que nesta terça-feira,, 21, foi inundado por notas do Dnit e do senador Wellington Fagundes(PR) sobre a pavimentação de nove acessos da BR-070 a aldeias indígenas. Enquanto Wellington e Dnit se descabelavam pela paternidade da obra, o governador Mauro Mendes, a bancada federal, a Assembleia Legislativa e a associação dos prefeitos (AMM)  permaneceram calados sobre o fato.

Falta liderança. Falta político que conheça a realidade mato-grossense. Falta voz por Mato Grosso. Falta capacidade de articulação política. Falta sensibilidade no exercício do mandato. Falta assessoria de boa qualidade aos homens públicos, muito embora as folhas salariais dos Poderes contemplem incontáveis cabeças premiadas com boa remuneração sem contrapartida de produção.

Wellington quis mostrar a Mato Grosso que a obra leva sua chancela. Não duvido. O Dnit, há muito tempo, é uma ilha sob sua tutela. O tutelado, por sua vez, não está morto e no contexto da nova fase política (duplamente) capitaneada por Jair Bolsonaro, sente que precisa marcar posicionamento.
Pois bem. Wellington e Dnit à parte. Por enquanto.

A representação política mato-grossense não cumpre bem sua função. A pavimentação dos nove acessos a aldeias da Terra Indígena Sangradouro/Volta Grande é resultado de uma governança chapa branca entre o Dnit, Funai e o Ministério Público Federal (MPF). Sua execução está orçada em R$ 5,8 milhões. A burocracia contratual começou neste 21 de maio, tem nova etapa em 3 de junho e seguirá um enervante caminho. Essa definição é a oficial. Na verdade, a situação é a que começa a ser dita no parágrafo seguinte.


Sangradouro tem 100.280 hectares em Poxoréu, General Carneiro e Novo São Joaquim. Naquela área vivem cerca de 850 indíviduos xavantes e bororos. Não se trata de uma pequena – para os padrões agrários mato-grossenses – terra indígena isolada. Ao contrário, ela se insere no maior latifúndío com pluralidade étnica do mundo. Localizada no Vale do Araguaia, Sangradouro é vizinha ou próxima deParabubure, Areões, Urubu Branco, Marãiwatsédé, Parque Indígena do Xingu, Suyá, Capoto/Jarina. Chão Preto, Pimentel Barbosa, Wawi,  Marechal Rondon, São Marcos, Ubawawe, Bakairi e tantas outras.

A Funai é um trem sem freio que corre nos trilhos do Brasil atropelando o governo e a lógica nacional. Reforçada pelo MPF e poderosas ONGs internacionais ela teima numa política indigenista  contraditória. No mesmo Vale do Araguaia, onde serão pavimentados nove acessos a índios aldeados, ela não aceita que a rodovia BR-158 – aberta ao tráfego desde os anos 1980, seja pavimentada no trecho coincidente com a Terra Indígena Marãiwatsédé, que até dezembro de 2012 era ocupada mansa a pacificamente por agricultores, pecuaristas e moradores urbanos na vila de Estrela do Araguaia, que era mais conhecida por Posto da Mata, que se situava nos municípios de São Félix do Araguaia e Alto Boa Vista – Posto da Mata foi demolida numa verdadeira operação de guerra.



Asfalto no trecho da BR-158 em Marãiwatsédé, dos xavantes, não. Com isso as cidades mato-grossenses de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, Alto Boa Vista, Luciara, São Félix do Araguaia, Canabrava do Norte, Porto Alegre do Norte, Confresa, Vila Rica, Santa Terezinha, São José do Xingu e Santa Cruz do Xingu permanecem isoladas da malha rodoviária mato-grossense pavimentada.

Volto a Wellington e ao Dnit. Ao senador para dizer que seu discurso é insosso. Ao Dnit, para sugerir que fique calado, pois se não pode ajudar, não deve atrapalhar.

Ao governador Mauro,  integrantes da bancada federal, Assembleia e AMM, relato um fato que por óbvias razões será negado por seu protagonista Luiz Antônio Pagot – quando presidente do Dnit.
O Exército tinha ordem para substituir por pontes de concreto as de madeira, no trecho paraense da rodovia BR-163 Santarém-Cuiabá (é assim que ela é chamada por lá), mas o Ibama criava mil embaraços. Depois de uma exaustiva queda de braço, finalmente o sinal verde. Mas, havia um longo caminho para superar o entrave ambiental orientado por estrangeiros. Nesse contexto entraram em cena os índios mundurukus, que são aldeados e perambulam no entorno do rio Tapajós.

Pagot queria botar os tratores na obra, mas os mundurukus se opunham. Escovado pela vida, Pagot sentiu que se tratava de um inimigo que não poderia ser enfrentado de peito aberto. Assim, pediu uma reunião com os principais líderes das aldeias e ela aconteceu em Novo Progresso (PA).

Munduruku não segue orientação de ONG por afinidade de pensamento, mas por interesses. E interesseera a palavra que Pagot buscava.  A sós, os caciques aldeados e o grande chefe branco fumaram o cachimbo da paz. Ninguém viu, ninguém ouviu o que as partes combinaram. Uma coisa, porém, é certa: pra cada borduna presente em Novo Progresso pintou uma camionete zero, cabine dupla com tração até no estepe. Os bolsos dos líderes índígenas ficaram abarrotados, segundo se deduz. Oficialmente Pagou lhes deu apenas um hospital, uma ambulância e uma merreca em moeda corrente via canais legais.

Acerto à parte, os mundurukus tomaram Doril.

Poucos integrantes da classe política no alto poder conhecem bem a realidade mato-grossense. Creio, que poucos também têm interesse em solucionar problemas que não sejam os seus. Esse cenário de capitulação é que nos penaliza.

Onde estava o governador Mauro Mendes que não propôs a pavimentação dos acessos às aldeias em troca do sinal verde para o asfalto na BR-158? Onde estava a bancada federal que não vislumbrou essa perspectiva? Especialmente, onde andava Nelson Barbudo que carrega o rótulo de deputado federal do Bolsonaro e defensor dos produtores rurais? Onde estava a subserviente Assembleia Legislativa? Onde estava a desnecessária AMM? Faço ressalva. Excluo a deputada federal Rosa Neide e os deputados estaduais Lúdio Cabral e Valdir Barranco, todos do PT. Os três rezam pela cartilha petista da divisão social brasileira, condição essa que não lhes permite articular em busca de consenso, principalmente quando se está em jogo interesse ambiental internacional. Portanto, mesmo que soubessem que seria possível uma negociação com os índios, o trio petista ficaria calado em nome de seu interesse maior.

Faltou habilidade a Mato Grosso. O cavalo passou arreado e ninguém montou. Xavantes e bororos recebem o mimo da pavimentação de uma espécie de trevinho para se entrar ou sair da BR-070. Em tese, ótimo enquanto obra. Na prática, péssimo para a segurança dos usuários da rodovia, que ganha  perigosos acessos pavimentados – não me tomem por mentiroso; essa é a realidade – que em muitos casos serão percorridos por motoristas bêbados e sem habilitação.

Faltou Pagot.

Que ninguém se escandalize. Tanto quanto a sociedade envolvente os índios querem o progresso e nem de longe se parecem com seus ancestrais quando Cabral aportou na Boa Terra. Que ninguém se descabele pela relação sigilosa de Pagot com os mundurukus. Abraham Lincoln queria libertar quatro milhões de escravos negros – O Parlamento bateu o pé. Lincoln conduziu um entendimento dolarizado abençoado por Deus. Historicamente há duas alternativas políticas: composição ou enfrentamento Os homens ora no poder, por aqui, não conseguem compor nem enfrentar.

Em Cuiabá nos restam as notas de Wellington e do Dnit. Nas cidades isoladas por falta de asfalto resta o desencanto com a opaca classe política mato-grossense que não consegue tirá-las do isolamento escravizante.

Sem mais a acrescentar.
 
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