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Sexta-feira, 29 de março de 2024
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Confinamentos devem ter menos de 5 milhões de cabeças em 2019

Consultorias avaliam que houve uma piora nas expectativas, mas esperam volume maior de animais no cocho em relação a 2018

Consultorias acreditam que os pecuaristas brasileiros devem confinar menos do que 5 milhões de cabeças de gado neste ano. Analistas de mercado ouvidos por Globo Rural afirmam que a intenção de confinamento está menor que no início do ano, mas, ainda assim, os volumes devem ser superiores aos de 2018.

A INTL FCStone projeta um confinamento de 4,750 milhões de cabeças, 9,19% a mais que no ano passado, quando a quantidade foi estimada pela empresa em 4,350 milhões. A Scot Consultoria fala em 5,46% a mais na mesma comparação, com o volume passando de 4,03 milhões para 4,25 milhões de bovinos de um ano para outro.

As estimativas refletem uma maior incerteza em relação ao mercado de boi gordo para estes últimos meses do ano. Além disso, os preços dos animais para a engorda subiram, assim como a cotação do milho usado na alimentação dos rebanhos, levando o pecuarista a refazer cálculos e reavaliar expectativas de rentabilidade.

Nas contas da Scot Consultoria, a cotação do boi magro subiu 5,8% durante o primeiro semestre enquanto o boi gordo ficou praticamente estável, com leve valorização de 0,9%. O milho, com base em Campinas (SP), passou de cerca de R$ 31 a saca de 60 quilos em maio para algo próximo de R$ 38, um aumento de 22,58%.

"O início de 2019 estava diferente. A relação de troca piorou para o confinador e a expectativa de rentabilidade caiu. Quem não aproveitou a oportunidade da compra dos insumos, pagará milho um pouco mais caro", explica Felippe Reis, analista de mercado da Scot.

Caio Toledo, consultor de gerenciamento de riscos da INTL FCStone, conta que a intenção de confinamento estava maior até abril. De lá para cá, diminuiu. Além da alta do bezerro e do milho, o pecuarista tem visto um boi magro com ágios de 10% a 15% em relação à arroba do animal terminado.

“Se o pecuarista quiser comprar um animal para terminar até outubro, vai pagar mais. Se não comprou nem milho, nem animal e for fazer isso agora, a conta não deve fechar”, resume.

Diante deste cenário, grandes confinadores, com estrutura maior, tendem a trabalhar mais com os animais próprios ou em regime de parceria, acredita Toledo. Para os de menor porte, o efeito dessa alta de custos na terminação do gado dependerá de fatores como a região onde estão e a forma como produzem.

“A depender da região, do modo de produção e de como planejou, a conta pode empatar ou ficar negativa. Se comprou milho quando o valor estava mais baixo, pode até ter um ganho, mas se comprou agora, pode ter perdido”, diz.

A Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon) reforça o cenário de incerteza. Avalia que a quantidade de bovinos nos cochos pode ser 5,88% menor, de 3,2 milhões de cabeças. Em 2018, foram 3,4 milhões, diz o gerente executivo, Bruno Andrade. A estimativa toma como referência os dados dos 85 filiados e os extrapola para uma base de 1,4 mil confinamentos mapeados pela entidade.

Segundo Andrade, os associados respondem por 18% da produção dessa amostragem e não há medida precisa da participação desses confinamentos mapeados no total do país. No entanto, mesmo que não venham a refletir o mercado nacional em sentido mais amplo, os números da Assocon não deixam de ser um indicativo da preocupação de parte do setor com as condições atuais.

"Houve uma elevação no custo de produção no primeiro semestre em relação ao primeiro semestre de 2018. E há incerteza muito grande dos produtores em relação ao mercado de boi no segundo semestre", analisa Andrade.

Mercado interno

O executivo da Assocon vê possibilidade de mudança nesses números. A janela de confinamento vai até meados de agosto. Se, até lá, o preço do boi gordo ficar mais firme e houver uma percepção de melhora na rentabilidade, o pecuarista pode se ver estimulado a confinar mais. "Temos uma exportação boa, mas o mercado interno ainda não está consumindo muita carne", pondera Andrade.

No primeiro semestre, o volume exportado de carne bovina do Brasil foi 25,5% maior em relação ao mesmo intervalo em 2018. De acordo com o sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura, os embarques passaram de 657,93 mil para 826,10 mil toneladas de um período a outro. Para Caio Toledo, da INTL FCStone, abertura, ampliação ou reconquista de mercados pode acelerar as vendas externas.

Grande parte da atenção está na China. Nos primeiros seis meses do ano, o Brasil enviou para lá 19,3% a mais que no mesmo intervalo em 2018. O volume passou de 122,88 mil para 146,58 mil toneladas mesmo com apenas 15 unidades frigoríficas habilitadas e uma paralisação temporária por causa de um caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (mal da vaca louca), em Mato Grosso.

“Não conseguimos exportar mais porque não temos mais frigoríficos habilitados. Eles precisam de carne e, uma hora, devem vir para o Brasil. Só não pode demorar muito. Se demorar, pode mudar a expectativa”, afirma.

Mas, a depender de quem faz a conta, as exportações representam de 20% a 25% do consumo de carne bovina brasileira. A maior dependência ainda é da economia doméstica, que vive um momento de dificuldades, sucessivas revisões nas estimativas de crescimento e a necessidade de medidas que estimulem a atividade.

“O bruto da precificação fica no mercado interno. Ainda temos uma economia deixando a desejar, mas, mesmo assim, quando fazemos uma comparação anual, o consumo está melhor que no ano passado”, pontua Felippe Reis, da Scot Consultoria.

Caio Toledo aposta em uma valorização do boi gordo neste segundo semestre. O cenário, por um lado, é de oferta relativamente estável. Com a alta no animal para reposição, a tendência é de maior retenção de fêmeas. De outro lado, há possibilidade de uma demanda mais aquecida por carne bovina. O consumo tende a aumentar à medida que a população confiar mais na melhora da economia.

O desempenho das proteínas concorrentes é outro fator que indica espaço de valorização. Segundo o consultor, nos últimos doze meses, a carne de frango teve alta de 23% e a suína, de 60%. A carne bovina no atacado subiu 11%. “A bolsa já precifica a arroba mais alta no segundo semestre”, diz.

Na B3, o contrato de boi gordo com liquidação para julho tem oscilado entre R$ 154 e R$ 155 por arroba nos últimos dias. O vencimento de outubro varia entre R$ 161 e R$ 163. Do início de junho até esta quarta-feira (17/7), os dois papeis subiram 3,17% e 5%, respectivamente.
 
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