Shakespeare já se angustiava no final do século 16 e começo do século 17 na Tragédia de Hamlet: "ser ou não ser, eis a questão". O tema da sexualidade nos dias atuais cabe direitinho na angústia antiga de Shakespeare. Neste momento as discussões estão crescendo a respeito do tema, na medida em que a exposição pessoal avança através da internet e da própria mídia comercial. As telenovelas vem há bastante tempo tangenciando o tema e deixando indagações e curiosidade a respeito.
Rural até os anos 1970 e severamente policiada pelas religiões, a sociedade brasileira teve muita dificuldades para enfrentar temas polêmicos no mesmo nível de intensidade que hoje se discute a sexualidade. O divórcio foi aprovado no Brasil em julho de 1977 depois de décadas de discussões lideradas pelo senador carioca Nelson Carneiro. As religiões se posicionaram bravamente contra sob a alegação de que o divórcio "destruiria a celula-mater da sociedade, que é a família". Não destruiu. Mudou profundamente as monolíticas relações conjugais.
A importância que a sociedade atual dá ao divórcio está na exata dimensão do seu papel jurídico de permitir a separação de pessoas casadas no civil. Não se questiona mais aquela angústia dos anos 1970 de "destruição dos valores sociais". Neste momento a sexualidade ganhou o imaginário social no Brasil, assim como no mundo inteiro. Em alguns países europeus o assunto já foi tratado há muitos anos. Nos Estados Unidos, no Japão, na China, no mundo árabe, por exemplo o tema é dúbio, tanto por razões sociais quanto legais e religiosas.
Depois do comercial que o Boticário divulgou para o Dia dos Namorados insinuando casais homoafetivos, pesquisas revelaram que empresas de grande porte no varejo estão tentando associar o tema homoafetividade à sua marca como um sinônimo de modernidade e de não preconceito. As uniões estáveis foram reconhecidas em 2011 pelo Supremo Tribunal Federal.
Desse modo, com a liberdade de expressão ampla, geral e definitiva pelas redes sociais e da internet, é preciso muito cuidado dos setores sociais mais tradicionais ao condenar a tendência de expressão da sexualidade individual aberta que tende a seguir o mesmo caminho que teve a aprovação do divórcio. "Ser ou não ser"... continua atual.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso. E-mail:onofreribeiro@terra.com.br www.onofreribeiro.com.br
Onofre Ribeiro