No decorrer da minha vida profissional atendi muitos casais ou mesmo pacientes que apontavam problemas na sua vida amorosa e ao aprofundar o que foi verificado é que não houve um casamento entre eles, mas duas culturas das suas respectivas famílias e o quanto as divergências oriundas de ambas se atritam numa relação a dois sem projeto comum.
O que deveria ser comum entre um casal preste a se casar é a questão: se vamos viver juntos sem prazo para encerrar, o que queremos para nossa vida amorosa independente da nossa educação e origem familiar? Fazer isso é um ato de coragem, pois colocam em xeque suas origens e valores. Precisam se olhar nu e cruamente suas origens, gostos e desejos; identificar suas afinidades, seu jeito de ser, eleger valores que lhe são irrefutáveis e que precisarão ser negociados se houver divergências.
Precisaram enfrentar seus familiares quando abrem mão de costumes que eram significativos nas suas famílias de origem. Mas não é isso que se vê. O comum de um início de casamente, independentemente de ser heterossexual ou homossexual é não se conversar sobre o que estão construindo juntos. Ambos pensam individualmente sobre o que esperam e desejam e vão cobrar que o outro seja o que desejavam sem deixar claro antes da união. No caso de mulheres é comum, já na adolescência definirem se terão filhos e quantos, mesmo antes de conhecer seu futuro marido ou companheira. Pensam em como será o dia do seu casamento, mas não sobre como será seu dia-a-dia. Os homens geralmente nem pensam nisso, apenas se deixam levar pelas circunstâncias e deixam para decidir diante das adversidades ou escolhas da esposa. Além disso aparece as frases: “na minha casa era diferente”, referindo-se a sua família de origem.
Este é outro fator de inúmeras brigas, não só os valores de suas famílias de origem se sobrepõem ao seu casamento, como os familiares se veem no direito de opinarem com o aval do cônjuge. Isto mostra o quanto ainda vivemos numa sociedade sem maturidade para constituir novas famílias e o quanto se critica a instituição família. Por viverem sob essa viseira estreita de perpetuar sua educação, querem destruir uma instituição de base sem propor nada no lugar. A importância de se questionar, se dar conta da sua responsabilidade de construir sua vida e de como podem levar a vida dos outros em consideração.