O desmatamento na Amazônia aumentou 85,3% em 2019 em relação ao ano anterior. Os dados oficiais foram registrados pelo sistema Deter-B, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro, cético em relação às mudanças climáticas e partidário pela abertura das áreas protegidas na região amazônica às atividades extrativistas.
Mato Grosso foi a unidade da federação brasileira com maior percentual de devastação da floresta no mesmo período. No Estado, a área com alerta subiu de 1.092,89km2, em 2018, para 1.919,55km2, no ano passado, o que corresponde a 75,64% de aumento. O município mato-grossense com maior área derrubada foi Cocalinho, com 82,42km². Em seguida vem Rosário Oeste, com 60,92 km² e, em terceiro lugar,
São Felix do Araguaia, com 43,83 km² de solo descoberto.
Em toda a região, de acordo com o Inpe, entre janeiro e dezembro no ano passado, a área com alertas de desflorestamento foi de 9.166 km². Esta cifra é a maior desde 2015 e quase o dobro da registrada em 2018 (4.946 km²). Em 2015, foram destruídos 2.195km2. Dentre os estados, a maior elevação ocorreu no Pará, onde a área saltou de 1.684,69km2 para 3.716,15km2, ou seja, 120,58%. Em Rondônia subiu de 815,56 km2 para 1.342,38km2 (64,59%) e, no Amazonas, de 835,24km2 para 1.354,06km (62,18%).
Os dados foram coletados com ajuda do sistema “Deter”, baseado em alertas de desmatamento identificados por satélite. Outro sistema utilizado pelo Inpe, o Prodes, considerado mais confiável, mas mais demorado para compilar os dados, mostrou no fim de novembro que o desmatamento da Amazônia brasileira excedeu a faixa de 10.000 km2 pela primeira vez desde 2008, entre agosto de 2018 e julho de 2019, 43% a mais que nos 12 meses anteriores.
Para combater o desmate ilegal, em agosto do ano passado, o governo do Estado lançou a “Plataforma de Monitoramento com Imagens de Satélite Planet”, um sistema de detecção da derrubada da floresta em tempo real de alta resolução que permitirá um monitoramento ambiental preventivo. O serviço foi adquirido por meio do programa “REM” e atua em tempo real no controle e combate ao desmatamento ilegal em toda a extensão de Mato Grosso.
Com a ferramenta, os proprietários serão responsabilizados e a área embargada de forma imediata. O investimento para a aquisição da ferramenta foi de, aproximadamente, R$ 5 milhões. O REM é uma iniciativa de remuneração que premia países que apresentam resultados positivos de conservação de florestas, viabilizada de forma conjunta pelos Governos da Alemanha e do Reino Unido. O contrato do REM Mato Grosso libera os recursos, de acordo com o desempenho do Estado no combate ao desmatamento.
HRW – Em sua análise anual sobre a situação dos direitos humanos em mais de 100 países, publicada na última terça-feira (14), a organização não governamental internacional Human Rights Watch (HRW) afirma que as políticas ambientais do atual governo enfraqueceram o combate a atividades ilegais na Amazônia, reduziram o orçamento para fiscalização, limitaram a ação de servidores públicos e dificultaram que o país faça prevalecer a força da lei.
Para a entidade, as instituições públicas fazem vista grossa para atividades ilegais e colocam em risco agentes públicos que atuam em regiões como a Amazônia: “eles vivem sob constante ameaça de grupos criminosos que usam a força para se impor”, diz o documento. O entendimento é de que a atual política ambiental brasileira dá “carta branca” às redes criminosas que atuam na região e requer que o problema não seja tratado apenas no âmbito ambiental. Para isso, pressiona o ministro de Segurança Pública e Justiça, Sergio Moro, a incluir a crise da Amazônia nas políticas prioritárias de sua pasta.
Vale lembrar que, em meados do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de críticas da comunidade internacional pelo aumento alarmante de queimadas na Amazônia, atribuídos pelos especialistas ao avanço do desmatamento. O governo federal prepara ainda o envio ao Congresso Nacional de um projeto de legalização da exploração petroleira e de gás e de construção de represas hidroelétricas em terras indígenas.